terça-feira, novembro 25, 2008

CINEMANIA

Os grandes diretores de Cinema

François Truffaut

Para mudar um pouco, falarei sobre um diretor francês. Expoente da chamada Nouvelle Vague (movimento artístico do cinema francês que se insere no movimento contestatório próprio dos anos sessenta. Sem grande apoio financeiro, os primeiros filmes conotados com esta expressão eram caracterizados pela juventude dos seus autores, unidos por uma vontade comum de transgredir as regras normalmente aceitas para o cinema mais comercial), François Truffaut nasceu em Paris em 6 de Fevereiro de 1932. Ele foi um dos fundadores do movimento nouvelle vague e um dos maiores ícones da história do cinema do século XX. Em quase 25 anos de carreira como diretor, Truffaut dirigiu 26 filmes. Conciliou um grande sucesso de público e de crítica na maior parte deles. Os temas principais de sua obra foram as mulheres, a paixão e a infância. Além da direção cinematográfica, Truffaut foi também roteirista, produtor e ator.


Trajetória de vida

François Truffaut não conheceu o pai biológico e foi rejeitado pela mãe. Criado pelos avós maternos, seu avô era um homem rígido e a avó despertou no menino a paixão pela literatura e música. Com sete anos, François viu o primeiro filme no cinema, Paradis perdu, de Abel Gance. Dali em diante, interessou-se assiduamente pela sétima arte.
Aos 10 anos, François perdeu a avó e foi morar com a mãe, que estava casada com Roland Truffaut, um arquiteto católico. Roland acabou registrando o garoto com o seu sobrenome. Foi o período mais difícil da infância de Truffaut. Rechaçado tanto pelo pai adotivo quanto pela mãe, seu espírito rebelde o tornou um mau aluno na escola e ele passou a cometer alguns atos de deliqüência, como pequenos furtos. Esta fase de convívio com os pais inspiraria Truffaut em seu primeiro trabalho cinematográfico, o autobiográfico “Os Incompreendidos”.
Nessa época, Truffaut cabulava aula para assistir filmes com um colega de escola. Aos 14, abandonou a escola definitivamente e passou a viver de pequenos trabalhos e alguns furtos. A paixão pelo cinema fez o jovem Truffaut fundar, em 1947, um cine-clube, chamado "Cercle cinémane". Aquela era uma época de enorme efervencência cultural na França pós-II Guerra Mundial, e os cineclubes, lotados, era o local para se assistir às projeções e discuti-las depois. Mas o "Cercle" não teria vida longa, já que ele concorria com o "Travail et culture", cine-clube do escritor e crítico de cinema André Bazin. Bazin soube que o "Cercle" estava à beira da falência e foi conhecer Truffaut. Sensibilizado com o menino cinéfilo, o crítico tornaria-se uma espécie de "pai" para François.
A influência de Bazin na vida de François Truffaut foi decisiva. O jovem tornou-se autodidata, esforçando-se para ver três filmes por dia e ler três livros por semana. Ele até chegou a fazer um acordo com o pai adotivo, que lhe custearia despesas derivadas de sua vida cinéfila. Em troca, Roland Truffaut exigiu que François arrumasse um emprego estável e abandonasse o seu cine-clube de vez. Mas o garoto descumpriu o acordo, e Roland Truffaut o internou em um reformatório juvenil, e passou sua custódia para a polícia. Os psicólogos do reformatório contactaram Andre Bazin, que prometeu dar um emprego a François no "Travail et culture". Sob liberdade condicional, Truffaut foi internado em um lar religioso de Versailles, mas seis meses depois foi expulso por mau comportamento.
Aos 18 anos, François Truffaut tornou-se secretário pessoal de Andre Bazin e obteve a emancipação legal dos país. Bazin continuou a lhe dar a formação adequada em cinema, introduzindo-o no "Objectif 49", um seleto grupo de jovens estudiosos do novo cinema da época, como Orson Welles e Roberto Rossellini. Mais tarde, integrariam o "Objectif 49" nomes como Jean-Luc Godard, Suzanne Schiffman e Jean-Marie Straub. Truffaut também participava do "Ciné club du Quartier Latin", boletim sobre cinema coordenado por Eric Rohmer, em que ele daria seus primeiros passos como crítico da "sétima arte". Em abril de 1950, François Truffaut foi contratado como jornalista pela revista “Elle” e passou a escrever seus primeiros textos. Também fazia contribuições regulares para outras publicações.
Em decisão inexplicável, Truffaut largou a profissão e alistou-se nas Forças Armadas francesas. Arrependido, tentou escapar, mas acabou preso por tentativa de deserção. Novamente, Andre Bazin intercedeu por ele e Truffaut livrou-se do serviço militar depois de dois anos, em fevereiro de 1952. Desempregado, aceitou morar com a família de Bazin e dedicou-se a ver filmes e escrever artigos como freelancer.
Em 1953, Andre Bazin ajudou Truffaut a entrar para a "Cahiers du cinéma ", nova revista sobre cinema criada por Andre Bazin, Jacques Doniol-Valcroze e Joseph-Marie Lo Duca e tornaria-se a mais influente publicação sobre o assunto na França. E logo com seu primeiro artigo, "Une Certaine tendance du cinéma française" - um manifesto contra "a tradição da qualidade" do cinema francês -, Truffaut causou polêmica no meio cinematográfico, seja para defendê-lo ou criticá-lo. Ao longo de seis anos na revista, Truffaut publicou 170 artigos, a maioria deles críticas de filmes ou entrevistas com diretores, alguns dos quais se tornariam seus amigos, como Jean Renoir, Max Ophuls e Roberto Rossellini. Alvo constante de críticas de publicações de tendência esquerdista, como "L'Express" e "Les Temps modernes", Truffaut manteve sua postura de atacar aquilo que julgava ser um cinema obsoleto. Mas sempre fez questão de evitar o engajamento político, embora tivesse militado em algumas ocasiões, como contra a guerra na Argélia.


A Nouvelle Vague

Como crítico, François Truffaut desenvolveu sua famosa "Politique des auteurs" (teoria autoral, em português). Neste conceito, o filme é considerado uma produção individual, como uma canção ou um livro. Truffaut defendia que a responsabilidade sobre um filme dependia quase que exclusivamente de uma única pessoa, em geral o diretor. Para ele, o grande representante de sua teoria era o diretor inglês Alfred Hitchcock.
A "Politique des auteurs" foi a base para o surgimento de um movimento que revolucionaria o cinema francês. Criada por jovens cineastas franceses, a Nouvelle Vague defendia tanto a produção autoral, com também uma produção intimista e a baixo custo. Esta nova geração era formada principalmente por jovens críticos das publicações especializadas. E a dúvida que pairava era: será que um crítico é capaz de fazer um filme? François Truffaut foi um dos primeiros a tentar provar que era possível. Ele realizou três curtas-metragem. Ainda naquele ano, Truffaut publicou o conto "Antoine et l'Orpheline" na "La Parisienne" - onde também era colaborador - e fez sua primeira entrevista com Alfred Hitchcock, em Paris, para a revista "Cahiers".


Casamento e carreira

Em 1956, Truffaut foi assistente de produção de Rossellini e, no ano seguinte, fundou sua própria companhia de cinema, a Les films du Carrosse. Em 1957, casou-se com Madeleine Morgenstern, filha do rico distribuidor Ignace Morgenstern. O casamento com Madaleine garantiu plena independência artística-financeira para os trabalhos de François Truffaut. Com ela, o cineasta teve duas filhas: Laura (1959) e Eva (1961). Durante a produção de "Os Incompreendidos", Truffaut viu, em 11 de novembro, o "pai" Andre Bazin falecer, vitimado pela leucemia.
Com as gravações de "Jules et Jim", o cineasta teve um caso de amor com a atriz francesa Jeanne Moreau, casada na época com o costureiro Pierre Cardin. Em 1964, Truffaut decidiu romper seu casamento com Madeleine Morgenstern, e manteve o romance com Moreau, recém-separada de Cardin.
No fim dos anos 60, o diretor e Godard rompem uma longa amizade, iniciada na redação da "Cahiers du Cinéma". A ruptura seria para sempre, embora Godard tentasse uma reconciliação nos anos 80.
Em 1973, depois do sucesso com “A Noite Americana”, com o qual ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro, Truffaut recusou proposta da Warner Brothers para refilmar Casablanca. Quatro anos depois, o cineasta atuou em “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, do diretor norte-americano Steven Spielberg. Em outubro de 1979, François Truffaut aceitou o cargo de presidente da "Federação International dos Cine-clubes".


Obra

François Truffaut fez seu primeiro filme em 1954. Foi o curta-metragem “Uma Visita”, filmado em preto-e-branco e 16mm. No mesmo ano, produziu o argumento de “Acossado”, de Godard, futuro e aclamado filme deste diretor. Em 1958, Truffaut e Godard co-dirigiram o curta “Une Histoire D'Eau”. Com a fundação da Les films du Carrosse, Truffaut produziu outro curta. “Os pivetes”, também filmado em preto-e-branco e 16mm, recebeu boa recepção da crítica especializada e lhe deu o prêmio de Melhor Diretor do Festival du Film Mondial, de Bruxelas.
Em 1958, com recursos de seu sogro, fez um projeto inspirado em suas experiências da infância e pré-adolescência, o longa-metragem “Os Incompreendidos”. Sucesso internacional, este filme definitivamente inaugurou a Nouvelle Vague. O jovem Jean-Pierre Leaud, aos 14 anos, interpretou Antoine Doinel, alter-ego de Truffaut. Assim como Bazin tornara-se um pai para Truffaut, este seria o grande mentor de Leaud. Em abril de 1959, os “Incompreendidos” ganharia o prêmio de melhor diretor do Festival de Cannes, além de ter sido indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original.
Em novembro de 1960, foi lançado “Atirem no pianista”, segundo longa-metragem do diretor e seu primeiro filme noir, baseado no romance policial "Down There", do norte-americano David Goodis. O filme foi um fracasso de público, o que levou muitos jornalistas a decretarem o fim da Nouvelle Vague. Mas com “Jules et Jim” (Uma mulher para dois), lançado em janeiro de 1962, Truffaut tentou provar o oposto. Com Jeanne Moreau no papel principal, Jules et Jim - adaptação homônima do livro do francês Henri-Pierre Roché, que conta o triângulo amoroso de três amigos -, é considerado uma das obras-primas do movimento. Ainda naquele ano, Truffaut lançou o curta “Amor aos 20 anos”, uma seqüência das aventuras de Antoine Doinel.
Em 1964, estreou “Um só pecado”, o quarto longa do cineasta, um drama psicológico sobre a paixão de um renomado conferencista por uma jovem. Em 1966 faz Fahrenheit 451, filme inspirado na ficção do escritor norte-americano Ray Bradbury, que narra a história de uma sociedade totalitária no futuro, onde os livros foram banidos. Foi o primeiro filme colorido de Truffaut.
Em abril de 1968 foi lançado “A Noiva Estava de Preto”. Inspirado na obra do escritor norte-americano William Irish, A Noiva... era o segundo film noir do diretor e novamente foi estrelado por Moreau. Ele conta a história de uma mulher em busca de vingança pelo assassinato do noivo. Em setembro, estreou “Beijos Proibidos”, mais uma história com o alter-ego do diretor. Nela, Antoine Doinel apaixona-se por Christine (Claude Jade), uma violonista burguesa. O filme foi também um registro feito da cidade de Paris antes dos acontecimentos de maio de 68. O diretor acabou por se casar com Jade, naquele ano.
“A Sereia do Mississippi”, lançado em junho de 1969, é mais uma adaptação que o diretor fez de uma obra de Irish. Com Jean-Paul Belmondo e Catherine Deneuve, o filme conta a história de um rico empresário do tabaco, de Reunião, que conhecera uma mulher por correspondência e se casaria com ela, mas ele se envolve em uma louca paixão com uma mulher totalmente diferente daquela com a qual pretendia casar. Em fevereiro de 1970, foi lançado “O Garoto Selvagem”, adaptação de Jean Itard. É o primeiro filme em que Truffaut ganha um papel de destaque (ele já havia feito uma sutil aparição em "Os Incompreendidos”), ao interpretar o professor Itard, que vivenciou a experiência de encontrar um menino nas selvas, que foi educado por ele. Leaud, em Domicílio Conjugal, de setembro de 1970, mostra um Antoine Doinel casado com Christine.
“O Homem que Amava as Mulheres” (1977) narra a vida e os casos amorosos de Bertrand Morane Charles Denne. Inspirado em "The altar of the dead", de Henry James, O quarto verde foi lançado em 1978. A obra conta a história de Julien Davenne (interpretado por Truffaut), um jornalista que venera a mulher prematuramente morta. Em 1979, chegou ao fim a saga de Antoine Doinel, com o lançamento de “Amor em fuga”. Já tendo passado do 30 anos e separado de Christine, Doinel tenta ainda encontrar o amor.
Um dos mais premiados filmes do diretor foi “O Último Metrô” (1980), o filme contou os astros Gérard Depardieu e Catherine Deneuve. Durante a França ocupada pelos nazistas, um dramaturgo judeu comanda uma peça do porão de seu teatro. Vencedor o César em 10 categorias e recebeu indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Em 1981, estreou “A Mulher do Lado”, com Fanny Ardant e Gérard Depardieu. O filme narra a tragédia história de amor de Bernard e Mathilde, que se reencontram depois de viverem um tórrido romance. Último filme de François Truffaut, “De repente num domingo” (1983), o filme narra a história de uma mulher que ajuda um homem, acusado por assassinato, a encontrar o verdadeiro criminoso.


Morte

No início dos anos 80, Truffaut queixava-se de intensas dores de cabeça e descobriu mais tarde que estava com câncer no cérebro. Pensava em fazer sua autobiografia, com o amigo Claude de Givray, mas os problemas de saúde o impediram de finalizá-la. Em 21 de outubro de 1984, François Truffaut faleceu, no Hospital Americano de Neuilly-sur-Seine, vítima de um tumor cerebral, causado pelo vício do cigarro.


Filmografia

Uma Visita (1955)
Les Mistons (1957)
Histoire D´Eau, Une, co-dirigido com Jean-Luc Godard (1958)
Os Incompreendidos (1959)
Atirem no Pianista (1960)
Jules e Jim (1962)
Amor aos 20 anos (1962)
Um só pecado (1964)
Fahrenheit 451 (1966)
A Noiva Estava de Preto (1968)
Beijos Proibidos (1968)
A Sereia do Mississippi (1969)
O Garoto Selvagem (1970)
Domicílio Conjugal (1970)
Duas Inglesas e o Amor (1971)
Uma jovem tão bela como eu (1972)
A Noite Americana (1973)
A História de Adèle H. (1975)
Na idade da inocência(1976)
O Homem que Amava as Mulheres (1977)
O Quarto Verde (1978)
Amor em Fuga (1979)
O Último Metrô (1980)
A Mulher do Lado (1981)
De repente num domingo (1983)


Viviane Ponst

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